segunda-feira, novembro 20, 2006

"Agora sei o que é ser-se cego..."

Roçando-se pela parede, começou a descer a escada, se este lugar não fosse o segredo que é, e alguém viesse a subir do fundo, teriam de proceder como tinha visto na rua, despegar-se um deles da segurança do encosto, avançar roçando-se pela imprecisa substância do outro, talvez por um instante temer absurdamente que a parede não continuasse do lado de lá, Estou a perder o juízo, pensou, e tinha razões para isso, a descer como ia por um buraco tenebroso, sem luz nem esperança de a ver, até onde, estes armazéns subterâneos em geral não são altos, primeiro lanço da escada, Agora sei o que é ser-se cego, segundo lanço da escada, Vou gritar, vou gritar, terceiro lanço da escada, as trevas são como uma pasta grossa que se lhe colou à cara, os olhos transformaram-se em bolas de breu, Que é que está diante de mim, e logo a seguir outro pensamento, ainda mais assustador...

Ensaio sobre a Cegueira, José saramago

3 comentários:

Jay Dee disse...

Um dos melhores livros da minha vida, sem dúvida. Senão o melhor.
E pode aplicar-se a tanta coisa... tantos cegos e tantos tipos de cegueira.

keep ya head up. know why?
cause only God can judge ya

Rui Catalão disse...

Tanta e tanta cegueira que por "aí" (no mundo) anda. E os piores cegos - como se diz - nem são os que não vêem, mas sim os que não querem ver...

Mas tu não és cega, oh chóriça. "Vês" muito melhor do que aquilo que julgas :) *

teresa disse...

maria, adorei esse livro:)

não deixes de ver aquilo que está à tua frente:) e nós estamos cá para te ajudar.. e tu a nós, né?